Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

É dos filhos que provêm 54% das agressões a idosos

idoso_violencia A violência contra o idoso é um grave problema de saúde pública no Brasil. O levantamento mais recente dessa realidade, divulgado na quarta-feira, dia 13 de junho, mostra que 12% dos quase 18 milhões de idosos do país já sofreram maus-tratos. A violência psicológica é o tipo mais comum e engloba humilhação, discriminação e ameaças. Mas as ocorrências contra os maiores de 60 anos também incluem agressões físicas, uso indevido do dinheiro do idoso, negligência, abandono e até mesmo a violência sexual, registrada em oito cidades brasileiras.

Para o coordenador do estudo e pesquisador associado da Universidade de Brasilia (UnB), Vicente Faleiros, os dados são preocupantes e servem de alerta para a população. Em entrevista, ele defende a criação de políticas que ensinem os brasileiros a tratar melhor os idosos. De acordo com o especialista, é preciso mudar a cultura no Brasil de que os mais velhos são descartáveis e inúteis.

O estudo foi realizado por mais de 50 especialistas, entre professores e alunos, espalhados nas 27 capitais brasileiras, e se base ou em denúncias registradas no Ministério Público, nas secretarias de Assistência Social, na polícia, e no Disque-Idoso, que funciona em algumas cidades registrando casos de maus-tratos. Além dessas fontes, Faleiros também usou dados epidemiológicos pré-existentes para traçar o panorama da violência contra o idoso no Brasil. Os resultados foram publicados no livro Violência contra a pessoa idosa: ocorrências, vítimas e agressores, lançado em junho pela Editora Universa.

De acordo com a obra, 54% das agressões são provocadas pelos próprios filhos dos idosos. Para Faleiros, existe um diálogo de surdos entre a geração jovem e a mais idosa, que provoca essas distorções. Ele cita a questão financeira como uma das principais causas da violência interfamiliar.

- Percebemos que, por conta do aumento do desemprego, do consumismo e das drogas, os mais jovens estão chantageando os idosos para obter dinheiro - relata.

Na maioria dos casos, os idosos não têm coragem de denunciar.

- Há uma relação de confiança do idoso com seus familiares, que faz com que a violência fique em segredo - analisa o pesquisador.

Faleiros também destaca o fato de 60% dos casos de violência ocorrerem contra as idosas. De acordo com o pesquisador, isso se deve em grande parte ao machismo ainda presente na sociedade brasileira.

Vicente Faleiros defende a criação de políticas públicas voltadas para elas - principalmente na área da saúde - e reclama da atenção aos idosos no campo da medicina.

- Percebe-se que os médicos e outros profissionais que fazem o atendimento aos idosos não têm paciência de ouvir o que eles têm a dizer - critica. (Santa Coelho/UnB Agência)

Entrevista

Vicente Faleiros é bacharel em direito e em serviço social, pós doutor pela Écoles des Hautes Étudesen Sciences Sociales (EPHE), da França. doutor em sociologia da saúde pela Universidade de Montreal. do Canadá. e mestre em sociologia pela EPHE. Atua como pesquisador associado da UnB e é professor da Universidade Católica de Brasília (UCB). E autor de 25 livros acadêmicos e tern experiência na área de politicas públicas sociais com ênfase nos temas: criança e adolescente, assistência social, saúde pública, previdência, regulação.gerontologia e violência.

A pesquisa mostrou que 12%'o dos idosos brasileiros sofrem maus-tratos. Podemos dizer que o brasileiro trata mal os idosos?

- O dado é pre ocupante. As principais violências apontadas na pesquisa são humilhação, desqualificação e discriminação. Há uma cultura no Brasil de que velho é descartável, inútil e já passou do tempo. Na realidade, o dado de 12% - que, em algumas localidades, chega a 15%-se refere ao relato do idoso se ele sofreu violência. Mas, quando se investigam as denúncias no Ministério Público e na Polícia, por exemplo, há grande defasagem nesse número. Os registros não chegam a 1% nas capitais. Mesmo assim, é possível afirmar que o problema é grave. São 61 mil ocorrências denunciadas em 27 cidades. Considero o número elevado, por isso, digo que os resultados são assustadores. Se levarmos em conta que a população idosa está crescendo, teremos em poucos anos um número grande de brasileiros em situação de risco.

De que maneira podemos mudar essa situação?

É preciso educar nossa sociedade para ter uma relação melhor com os indivíduos maiores de 60 anos! - A questão mais imediata é capacitar os profissionais para trabalhar tanto na punição do agressor como no atendimento às vítimas. Muitos profissionais que atendem os idosos acham que eles são culpados por ter sofrido a agressão. Então, o idoso é vitimizado novamente quando vai denunciar. E preciso criar políticas de educação em longo prazo nos setores onde há mais violência, como no trânsito, onde poderíamos trabalhar com motoristas e cobradores. E também promover a educação escolar para a relação com os velhos. Outro fator importante é proporcionar a convive ncia e o diálogo entre as gerações, cada uma falando das suas necessidades. Existe um diálogo de surdos entre a geração jovem e a geração mais idosa.

O fato de as mulheres serem as principais vítimas evidencia que o machismo ainda é presente no país? É preciso criar políticas públicas voltadas para a mulher idosa?

- As mulheres sofrem mais pressão por conta da renda e das exigências impostas sobre elas. Isso se dá pela visão machista, muito presente na nossa sociedade, e também pelo fato de elas ficarem mais tempo dentro de casa e serem em maior número. Por isso, é necessário criar políticas voltadas para elas, principalmente na área da saúde. Por exemplo: poucas mulheres fazem o exame de câncer de mama. As idosas têm uma visão ainda negligencia da de auto cuidado. Também é preciso prevenir a hipertensão arterial e as quedas. Estas últimas causam 60% das internações de idosas. Além disso, precisamos estabelecer políticas de lazer, de convivência, de combate à depressão e à solidão e de atividade física, para poder garantir uma velhice de qualidade.

Como o senhor avalia o fato de os filhos serem os principais agressores?

- Existem duas dimensões para esse problema: história familiar, que pode ter contribuído para um conflito entre pai e filho; e a questão econômica, que provoca o conflito por renda. Seja qual for o motivo, a questão é grave: 54% das agressões são cometidas por filhos e logo em seguida aparecem os netos. Por isso, é preciso trabalhar a mediação da violência dentro da família e melhorar o diálogo entre as gerações. Idosos e jovens devem conversar em grupos familiares formados nos centros de assistência social e no Sistema Único de Saúde (SUS).

E como fica a questão da violência nas instituições voltadas para abrigar o idoso, como os asilos e as casas geriátricas?

- Tivemos poucas denúncias nas ocorrências, mas o idoso também tem medo de denunciar, já que, muitas vezes, aquele é o único espaço que tem. A principal queixa nesses abrigos é o mal-atendimento e a discriminação. Em muitas instituições, falta adaptação à realidade do idoso, como instalação de rampas e corrimãos. Também falta um atendimento especial à fala do idoso que, muitas vezes, está ancorada nas suas representações. Percebe-se que os médicos e outros profissionais que fazem o atendimento aos idosos não têm paciência de ouvir o que eles têm a dizer.

Quais são os principais tipos de crueldade revelados na pesquisa?

- O cárcere privado. Houve denúncias em que o idoso ficava preso dentro de um porão, outras em que ele era impedido de sair de casa ou de ver pessoas. Destacaria esses casos como sendo os de maior crueldade, mas a violência psicológica apareceu em maior número. Depois dela, vieram a violência física e a financeira. Esta última é pre ocupante porque, se não for denunciada devidamente, pode resultar na retenção do cartão do idoso e na apropriação de sua renda. Percebemos que, por conta do aumento do desemprego, do consumismo e das drogas, os mais jovens estão chantageando os idosos para obter dinheiro.

- É possível mapear no país os estados onde os idosos sofrem mais maus-tratos? E em relação ao resto do mundo, que posição o Brasil ocupa no ranking de violência contra o idoso?

- A expressão da ocorrência varia muito. Em Natal (RN), por exemplo, o abandono chama atenção; em Brasília, 45% das denúncias são de negligência; já no Recife (PE), a violência física é mais expressiva. Por isso, não dá para apontar um estado que trate pior o idoso. As ocorrências variam muito, inclusive em relação à fonte consultada. No que diz respeito ao resto do mundo, é possível dizer que nos países desenvolvidos, cerca de 6% dos idosos se queixam de violência. No México, uma pesquisa apontou 15% e na Espanha, 4, 7%. Mas ainda não dá para apontar a posição exata que Brasil ocupa, estamos abrindo a caixa-preta agora. Ao que tudo indica, nossos padrões estão na média.

- O fato de 90% das denúncias serem anônimas mostra que os idosos têm medo de prestar queixas. É preciso criar delegacias especiais para eles, a exemplo das delegacias de mulheres?

- É fundamental ter delegacias especiais. Mas, percebemos pela pesquisa que um serviço importantíssimo para captar denúncias é o disque-idoso. Ele já funciona em algumas capitais, como Manaus, Teresina e Belo Horizonte, e tem sido uma arma fundamental para identificar abusos. Além disso, precisamos trabalhar junto ao idoso para romper o silêncio, tomando-o mais autônomo e capaz de denunciar. Há uma relação de confiança do idoso com seus familiares, que faz com que a violência fique em segredo. Isso é o conluio do silêncio.

-O senhor diria que o Estatuto do Idoso, criado para regular os direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, foi falho na prevenção da violência?

- Não diria isso, porque o estatuto é muito jovem ainda, tem apenas quatro anos. Mas ele tem sido um instrumento importante. As denúncias de violência aumentaram em todas as capitais depois da criação dele. A novela da Rede Globo que colocou a questão dos maus-tratos aos idosos em pauta (Mulheres Apaixonadas) também colaborou. Na época em que ela estava no ar, o número de denúncias subiu bastante. Isso é sinal de que o tema precisa ser relembrado para que a sociedade possa agir. Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 15 de junho como sendo o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa.

Em 2050, pela primeira vez, a pirâmide demográfica brasileira será invertida. Teremos uma população de idosos maior que crianças e adolescentes. Os serviços de saúde estão preparados para atender essa demanda crescente?

-Os serviços de saúde ainda não estão preparados, mas têm tempo para isso. O governo federal estabeleceu um pacto de gestão do SUS junto aos governos estaduais e municipais que coloca a saúde do idoso como primeira prioridade. Isso quer dizer que todo o SUS está alertado para a demanda crescente. Agora, é preciso disponibilizar pessoal e dinheiro para operacionalizar o plano. Também precisamos criar uma nova política de atendimento domiciliar, porque o idoso fica mais em casa. Além disso, é fundamental ampliar os cursos de formação. Precisamos colocar a gerontologia na Psicologia, no Serviço Social, na Medicina e, principalmente, no Direito, porque os advogados são os mais mal-preparados.

> Qualidade de vida do idoso.

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