Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

Livro revela pressões de Lula, Dirceu e Berzoini sobre Radiobrás (Estadão)

Eugênio Bucci sofreu bombardeio ao combater governismo na estatal, mas terminou respaldado pelo presidente

por Daniel Bramatti

No dia 15 de junho de 2004, o então todo-poderoso ministro José Dirceu mandou um bilhete para seu colega Luiz Gushiken para se queixar de que a Radiobrás, empresa de comunicação do governo, havia se transformado em um órgão de “oposição”. Um ano depois, também por escrito, o mesmo Gushiken recebeu de Ricardo Berzoini, então ministro da Previdência, uma reclamação semelhante: na cobertura de uma paralisação de servidores federais, a estatal estaria fazendo “propaganda” de um movimento “puxado pelo PSTU e PFL”.

Em dezembro de 2005, o próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, manifestou - não pela primeira vez - sua contrariedade com a Agência Brasil, órgão oficial cujas chamadas estariam “piores que as manchetes dos jornais que mais criticam o governo”.

O alvo das pressões era o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, que desde 2003 se dedicava a uma tarefa tão complexa quanto inusitada: combater, nas entranhas de uma empresa do próprio governo, o chamado jornalismo chapa-branca - governista, de tom bajulatório e promocional - e promover, em vez disso, o apartidarismo e a impessoalidade na produção do noticiário. Para Bucci, a Radiobrás deveria atender não às autoridades, mas aos cidadãos e ao seu direito à informação.

Apoiada por Gushiken, a iniciativa foi bombardeada por outras estrelas da cúpula do PT e por pelo menos um dos especialistas em comunicação do partido, que assessorava o próprio Lula. Era vista, no mínimo, como “ingênua” por petistas que viam a prática de jornalismo crítico como um reforço para o arsenal dos adversários.

Mas Bucci manteve o rumo. Diferentemente de muitos de seus detratores, permaneceu no cargo durante todo o tempo que quis - quatro anos e meio - e indicou o sucessor. Ele relata as resistências que encontrou e os avanços que pôde promover no livro Em Brasília, 19 horas (Editora Record), que chega às livrarias nos próximos dias e tem como subtítulo A guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula.

O ex-presidente da Radiobrás afirma que Lula dava apoio ao seu projeto ao manifestar, em repetidas ocasiões, que o que é verdade tem de ser publicado. “Nunca o presidente pediu que a Radiobrás deixasse de dar alguma notícia, nem sugeriu que direcionássemos o noticiário para proteger as autoridades.” Mas o próprio livro mostra que o petista reclamava de notícias verdadeiras que incomodavam o governo.

“Pô, Eugênio, como é que a Radiobrás foi dar aquela declaração do Nilmário? (...) As pessoas vêm reclamar comigo, me perguntam se não tem ninguém lá de confiança que olhe isso.” Foi assim que Lula reagiu, no final de 2003, a uma dessas notícias incômodas.

O presidente se referia a uma entrevista de Nilmário Miranda, então secretário de Direitos Humanos, na qual ele atribuía o aumento do trabalho infantil no início da gestão Lula ao ajuste econômico promovido pelo governo. Publicadas pela Agência Brasil, as declarações logo repercutiram. “Ponderei que, se a Radiobrás tivesse de manter em seus quadros equipes para avaliar a pertinência da fala de ministros, uma sandice ganharia institucionalidade”, relata o autor no livro.

Por ignorar o lobby pela instalação de um “filtro governista” na estatal, Bucci poderia ter caído em desgraça, mas manteve seu prestígio no Planalto. Em setembro de 2004, foi convidado a escrever o discurso que Lula leria em um evento da Associação Nacional de Jornais. Com uma enfática defesa da liberdade de imprensa, o discurso repercutiu positivamente, na avaliação do governo. No dia seguinte, o presidente telefonou a Bucci para agradecer.

No livro, o ex-presidente da Radiobrás dá uma possível explicação para sua sobrevivência, apesar de ter vivido “sob fogo cerrado do governo” - título de um dos capítulos da obra. “Tenho absoluta consciência de que, se me mantive no cargo até 2006, devo isso à constância do presidente, que não cedeu a pressões que tinham por objetivo me destituir e quebrar a coluna vertebral da minha gestão. No fim das contas, não descarto a hipótese de o Café com o presidente, epicentro da ambigüidade em que tive de navegar, ter ajudado na sustentação que acabei por merecer.”

O Café com o presidente é um programa semanal de rádio produzido pela Radiobrás e veiculado em diversas emissoras. Seu conteúdo costuma repercutir em jornais e TVs. Lula é entrevistado no programa, mas a pauta é previamente discutida - só fala o que quer, quando quer.

“O prestígio (junto ao Planalto) gerado pelo Café não decorria dos seus alegados méritos jornalísticos, mas dos seus efeitos propagandísticos. Com isso, ele valorizou a Radiobrás, mas, ao mesmo tempo, contribuiu para que ela fosse vista como parte da máquina de propaganda do governo”, reconhece Bucci no capítulo intitulado O cafezinho da ambigüidade.

Para implantar seu projeto, Bucci não enfrentou apenas pressões políticas. Foi preciso mudar os padrões de apuração e redação de notícias e convencer os funcionários de que sua função não era servir as autoridades - um processo nada simples, já que, “aos olhos da direita e da esquerda, era assim porque sempre tinha sido assim”. Nas palavras de Bucci, o governismo era uma “cultura ancestral tão pesada quanto um continente”. Na semana passada, uma das manchetes no site da Agência Brasil era Líder do PSDB quer explicações de Dilma sobre autoria do dossiê. Ou seja, a agência de notícias do governo chama de dossiê o que o próprio governo nega ser dossiê - sinal de que algo mudou na “cultura ancestral”.


Os bilhetes de Dirceu

Prezado Ministro Gushiken:

Sou total e radicalmente contrário à proposta do Bucci de não obrigatoriedade de transmissão da Voz do Brasil. Só faltava essa. Já não basta a Radiobrás e sua “objetividade”, que na maioria das vezes significa um misto de ingenuidade e na prática mais uma emissora de “oposição”. (Junho de 2004)

Prezado Ministro Gushiken:

Você está acompanhando os problemas na Radiobrás? As notícias da mídia e a crise com o sindicato do Chico Vigilante? Você está a par da posição pública do Eugênio pelo fim da Voz do Brasil? Você tem acompanhado o conteúdo do noticiário da Radiobrás?

(Junho de 2004)


Assessor queria destacar 'pautas positivas'

Bernardo Kucinski se insurgiu contra o que chamou de ‘jornalismo público’ na Radiobrás

Eugênio Bucci tem uma teoria para explicar a difícil convivência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a imprensa no primeiro mandato - período em que deu poucas entrevistas coletivas, ameaçou expulsar o correspondente do New York Times e foi acusado de tentar cercear a atuação dos jornalistas ao propor que a profissão fosse fiscalizada por um conselho.

Para o ex-presidente da Radiobrás, a “dieta informativa” servida ao presidente todas as manhãs colaborou na formação de um clima de animosidade. “Ela se chamava Carta Crítica e consistia num documento confidencial de aproximadamente duas páginas em papel ofício. A pretexto de analisar o noticiário do dia, lançava reprovações severas aos métodos dos repórteres, ao pensamento dos colunistas e aos donos de jornais”, descreve Bucci.

O relatório, encaminhado a Lula de 2003 a 2006, era produzido por Bernardo Kucinski, militante do PT e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Criticava não apenas o noticiário da “grande mídia”, mas também o produzido pela Radiobrás. Segundo Bucci, que teve acesso a algumas edições da Carta Crítica, ela continha “algumas das manifestações mais explícitas da mentalidade autoritária” que se opôs ao projeto de tirar o tom governista do jornalismo da empresa.

No final de 2004, Bucci teve acesso a uma Carta Crítica que censurava a Agência Brasil por não cobrir a chegada de reforços para as tropas brasileiras no Haiti - omitindo o fato de que a agência vinha dando extensa cobertura à atuação dos militares brasileiros no país. O relatório também criticava a agência por ter noticiado a ida de uma delegação do PT ao Haiti, o que teria dado “munição” para que a imprensa estrangeira especulasse sobre uma suposta tentativa do Brasil de trazer o país para a órbita da esquerda latino-americana. No livro, Bucci rebate as acusações e se inspira nesse exemplo para descrever o que chamou de “sete pecados capitais do autoritarismo de esquerda” (veja quadro).

Em julho de 2005, Kucinski enviou a Gilberto Carvalho, assessor de Lula, uma carta para manifestar seu desagrado com a “postura editorial equivocada” da Agência Brasil e mostrar como deveria ocorrer a edição. Segundo a receita, o ideal seria dar destaque a “quatro pautas positivas”, que “quebrariam o enquadramento negativo da mídia nacional do que se passa no país”. E acrescentou: “Registre, para todos os efeitos, que a direção da Radiobrás imprimiu uma determinada direção à cobertura da Agência Brasil, chamadas por eles de jornalismo público, que, além de executada de modo incompetente e não atender nossas necessidades de comunicação, nunca recebeu mandato explícito do governo”. Procurado pelo Estado, Kucinski não quis se manifestar.


Trechos

“Eu olhava para os lados e constatava: a maioria das instituições encarregadas da comunicação pública no Brasil, quando apresentava noticiários no rádio, na televisão ou na internet, não praticava jornalismo, não informava o cidadão com a objetividade que ele merecia e à qual tinha direito. O que se fazia era propaganda, às vezes subliminar, às vezes expressa, das autoridades da vez”

“A bajulação era regra, não havia dúvida, mas uma regra cultural - e contrária à lei. (...) A lei ordinária e a Constituição condenavam a utilização de equipamentos e instituições públicas para fins particulares ou partidários. A lei, ora, a lei era ignorada. Eu lia os textos legais e me desconcertava: a chapa-branca, essa modalidade de discurso oficialista e adulador que se consagrou no Brasil, era praticada ilegalmente”

“A Radiobrás, sendo uma estatal, estava obrigada aos princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade, que vedavam qualquer desvio partidário ou governista. Nessa sutileza se apoiou a estratégia de trabalho. A nova direção começou a repetir em todo lugar que a máquina pública, para cumprir suas funções legais, deveria estar a serviço da cidadania e do direito à informação, não mais a serviço das causas pessoais dos governantes”

“A Radiobrás atravessou aquelas trevas (o escândalo do mensalão) sem se dobrar, nem ao governismo nem ao sensacionalismo. A Agência Brasil publicou, apenas a respeito das denúncias e das apurações do chamado ‘mensalão’, nada menos que 3.500 reportagens. Não sofreu uma única acusação de sonegação de dados e algumas notícias que veiculou em primeira mão foram reproduzidas por inúmeros órgãos de imprensa do Brasil e do exterior. Nossa credibilidade cresceu”


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