Não há comida para todos, alerta a FAO
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O colapso da agricultura devolveu à FAO ao primeiro plano e José María Sumpsi, o número dois da entidade, vê sinais de uma mudança histórica. E adverte que acabou a época dos excedentes de alimentos.
Ele concedeu uma entrevista ao jornal espanhol El País, 04-06-2008.
Há 820 milhões de famintos. Como há 15 anos. Vocês fracassaram?
Foi o que disse Sarkozy. Erramos. Pensávamos que a agricultura era um assunto resolvido. Havia excedente há 15 anos. Agora vemos que não. A demanda cresceu e o sistema não agüentou.
Um tema clássico de oferta e procura?
Sim. Não se esperava que os países emergentes – China, Índia, Indonésia, Brasil – crescessem tanto, e cresceram a um ritmo anual de 10 a 12%. Isso produziu uma explosão de demanda. Não estávamos prontos para isso. Esse mundo novo começou a comer e de repente não há comida para todos.
Assim, os fatores que explicam o aumento dos preços são uma fábula?
Numa situação de oferta e procura muito ajustada, qualquer circunstância (um furacão, o preço do petróleo) produz um cataclisma. O primeiro que se deve fazer é salvar a vida das pessoas. Repartir a comida. O segundo, criar as regras internacionais de comércio agrícola que evitem que cada país faça o que bem entender.
Mas acabar com o protecionismo não será fácil
Esta é a chave. Se o Primeiro Mundo começa a retirar os subsídios agrícola será o princípio de um mundo diferente. França e Espanha já defendem a regulação e essa idéia deve se impor. Alguns país dão sinais de levantar barreiras para a exportação. Se China, Japão e Vietnã exportarão suas reservas de arroz, grande parte do problema se resolveria. De Roma não sairá um grande acordo, mas serão colocadas as bases para um futuro imediato.
A estrutura da ajuda internacional deve mudar.
E mudará. Ban Ki-moon está liderando um plano de ação. Não vai permitir solapamentos nem descoordenação. A ONU trabalhará de forma coordenada com o Banco Mundial, o FMI e OMC.
E as ONG?
Será feito um plano global de ação e nos 45 ou 50 países prioritários se formarão equipes entre Governos, setor privado e ONG para levar a ajuda.
Assim, estamos ante uma revolução da cooperação.
Mais alguns meses e se verá. Em pouco tempo haverá menos famintos.
Lula tem razão na sua defesa do etanol?
Em boa parte. E sua sacada ao falar de etanol bom e etanol ruim, como o colesterol, é genial. O bom é o seu, claro. Mas é verdade; é inovador e parece que é realmente ecológico.
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